Como alguns jogadores já estão familiarizados com Beyond Two Souls, vamos começar abordando os problemas técnicos desta versão para PC. Estamos lidando com um porte de alta qualidade, que aproveita nossas modernas máquinas. Assim, as opções gráficas avançadas permitem ajustar a qualidade das texturas, os detalhes das decorações, os reflexos, as sombras, o antialiasing, a oclusão de ambiente, o desfoque cinético ou a profundidade de campo. Pequeno detalhe que agrada: uma miniatura ilustra o efeito de cada opção. Mesmo os jogadores menos experientes podem, portanto, encontrar facilmente o caminho. De qualquer forma, é possível empurrar todas as opções para baixo em qualquer PC que esteja um pouco correto. As limitações de taxa de quadros e resolução das versões de console são coisa do passado, e Beyond Two Souls agora pode ser jogado em 4K e sessenta quadros por segundo! Ao somar a este salto técnico as opções mencionadas acima, obtemos uma imagem extremamente detalhada, que reforça o impacto emocional de certas cenas. Poder observar facilmente os poros da pele, as sardas, os reflexos nos olhos, as gotas de suor e as lágrimas nos rostos dos personagens nos afasta um pouco mais do famoso vale perturbador.
Ainda podemos reclamar da falta de precisão de certas animações, principalmente quando dois personagens se beijam (no sentido antigo do termo e no sentido moderno). Mas apesar de seus seis anos de idade, Beyond Two Souls ainda está indo muito bem em 2019 graças à qualidade desta porta para PC. Observe também que o jogo oferece total compatibilidade com o par teclado/mouse e controladores não-PlayStation. Existem também algumas opções muito práticas, como a possibilidade de definir de forma independente o idioma do áudio, o das legendas e o usado nos menus. Os jogadores também podem escolher entre percorrer a aventura na ordem original (ou seja, sobre as memórias caóticas da heroína) ou em ordem cronológica. Aconselhamo-lo a privilegiar a primeira opção, que corresponde à visão de David Cage. De qualquer forma, esteja ciente de que os problemas de câmera e movimento que mencionamos no teste Heavy Rain respondem a assinantes ausentes em Beyond Two Souls, dos quais ninguém reclamará. Por outro lado, alguns jogadores podem se incomodar com o formato CinemaScope, que resulta na presença de faixas pretas horizontais em telas 16/9. Em troca, os proprietários de telas 21/9 ficarão emocionados.
UMA AVENTURA SEMPRE NA PÁGINA!
Com Ellen Page e Willem Dafoe no elenco, o caráter cinematográfico da aventura é inegável. Os dois atores também são perfeitamente reconhecíveis, não sendo a Quantic Dreams a última da classe em termos de captura de movimento. O cenário tem o bom gosto para se estender por quinze anos, o que permite não só interpretar Jodie aos nove anos, na adolescência e na idade adulta, mas também explorar inúmeros e muito variados ambientes. Essa é uma das muitas qualidades da aventura, entre as quais também está a possibilidade de controlar Aiden, a entidade espiritual ligada a Jodie. Com muita regularidade, o jogo nos oferece a direção desse espírito, que nos permite atravessar paredes, espionar conversas, interagir com alguns elementos da decoração, tomar posse de certos inimigos, estrangular outros, curar aliados ou até mesmo desencadear flashbacks direcionando um fluxo de energia. A presença de Aiden adiciona uma camada significativa de jogabilidade em uma aventura essencialmente narrativa. Algumas passagens chegam a flertar com o gênero de infiltração, mesmo que as diferentes possibilidades permaneçam muito roteirizadas. Porque não se engane sobre isso, Beyond Two Souls é de fato um jogo "tipicamente Quantic Dream". A narração e as escolhas vêm em primeiro lugar, sendo os diferentes ramos relativamente numerosos. Assim, após cada capítulo o jogo exibe um painel resumindo as porcentagens de jogadores que seguiram este ou aquele caminho. Algumas sequências oferecem apenas duas ramificações notáveis, enquanto outras podem chegar a dez. Aliás, deve-se notar que esta divisão em diferentes capítulos muito independentes é muito prática para jogar em pequenas sessões sem nunca perder o fio da aventura.
QUE DAFOE?!
Quanto ao final, consiste em pequenas sequências extraídas de vinte e quatro possíveis, para uma dezena de grandes arcos narrativos. Se os QTEs queridos por David Cage são naturalmente parte do jogo, a maioria das interações se contenta em exibir discretos pontos brancos na tela. A interface ainda mantém a exibição explícita de comandos para determinadas sequências específicas, mas são raras. Além disso, as fases de combate ignoram essa exibição. Mais instintivos que os de Heavy Rain, eles pedem ao jogador que dê um golpe de taco na direção certa para bloquear, carregar ou evitar um golpe. Único problema: nem sempre é fácil entender o que o jogo espera de nós, e acontece regularmente que perdemos estupidamente certas ações. Por exemplo, dar um passo para trás para evitar um golpe, quando você teve que avançar para bloqueá-lo. A aventura também guarda outras falhas, como certas sequências onde as cordas parecem um pouco grandes demais e onde a emoção não pega. Não basta fazer um personagem ganir em loop por dez minutos para despertar a empatia do jogador... Finalmente, assim como Heavy Rain, a chegada do jogo à Epic Store significa que tudo tem que ser ignorado. Por outro lado, ao contrário de seu antecessor, Beyond Two Souls chega ao PC acompanhado de seu conteúdo exclusivo para download. O DLC “Experiências Avançadas” não é muito ambicioso, pois é uma sucessão de salas de teste no estilo Portal (mas sem portais) que você completa em vinte minutos. Mas pelo menos temos a satisfação de poder percorrer toda a experiência de Beyond Two Souls. E no geral é muito bom!