Tudo começou durante uma viagem às terras distantes da Índia onde, sob o conselho demoníaco de seu vizir, meu pai abriu a ampulheta do tempo e liberou o poder maligno das areias. Exércitos corrompidos voltaram-se contra seus senhores; sedento de poder, o vizir apoderou-se da ampulheta e eu, vítima do feitiço, não tive outra solução senão ir à sua procura para acabar com a sua triste vida e anular a maldição das areias. Tudo teria terminado ali se eu não tivesse matado meu pai com minhas próprias mãos. Para apagar esse período da história, fui então ao passado, em busca da ilha do tempo, para evitar a confecção da ampulheta que causou a perda do meu povo. Perseguido pela morte, consegui escapar do meu destino e mudei o curso da história, salvando no processo Kaleina, a Imperatriz das Areias. Orgulhoso de minha vitória, voltei à minha Babilônia natal, pronto para retomar o curso normal de minha vida.
Efeito Borboleta
Infelizmente, a história não tomou o rumo que eu esperava. Sem a ampulheta, eu não tinha matado o vizir e ele, aproveitando minha ausência, agora reinava sobre meu povo com mão de ferro, incendiando minha cidade e derramando sangue. Pior de tudo, eu estava trazendo para ele a arma suprema na presença de Kaleina, portadora das areias. O passado, portanto, inevitavelmente se repetiu, o Vizir soltou as areias novamente e ficou mais forte do que nunca. Meu orgulho só me salvou para melhor condenar meu país. Infectadas com a maldição, as areias começaram a tomar conta do meu corpo e da minha alma. Não tive escolha, tive que agir rapidamente antes de me tornar um deles. Encarar o vizir novamente era minha única saída, mas era um longo caminho até ele e seu grande exército. Se as armas e minha agilidade sempre me foram úteis, agora eu também tinha que jogar furtivamente para derrotar meus inimigos em silêncio, esfaqueando-os com meu punhal em ritmo ou cortando suas gargantas sem dar tempo para respirar o menor suspiro: uma forma mais eficaz e, sobretudo, mais seguro do que enfrentá-los de frente. Chegando por trás, equilibrado entre duas paredes acima de suas cabeças ou suspenso por uma corda ou corrente pendendo sobre eles, meu gesto foi seguro e a lâmina afiada. Melhor arma entre as armas, a infiltração se tornou meu novo método. Mas logo eu não estaria mais sozinho nessa aventura, e o destino me fez cruzar novamente com Fara, filha do marajá que eu conhecera em outra época e que, portanto, não conseguia se lembrar de mim. Se a época era muito diferente, não havia mudado e ainda tinha seu caráter particular e sua verve fácil. Ela ainda não me era indiferente e, posso dizer-vos, sem ela, com certeza não estaria aqui para vos contar a minha história. Cada um tomando caminhos diferentes, nós nos ajudamos, respectivamente abrindo portas intransitáveis sozinhos.
Esquizofrenia aguda
Apesar dos meus sentimentos por Fara, não consegui confessar meu fardo para ela. Depois de lutar entre dois tempos, agora eu tinha que lutar entre dois eu: quem eu penso que sou, e minha forma escura, corrompida pelas areias e com moral duvidosa. Mas as areias não têm só inconvenientes e, apesar da maldição, tornaram-me mais forte, mais poderoso e deram-me novas formas de ultrapassar obstáculos e inimigos. Usando a corrente que causou a infecção, voei de telhado em telhado, acessando mecânicas inacessíveis e lutando contra criaturas das sombras enquanto girava minha nova arma, procurando as areias que me mantinham vivo. restaurar minha verdadeira aparência e me libertar dessa voz que martelava minha cabeça. Esvaziei poços de areia, adquirindo assim novos poderes (nem sempre úteis), descobri passagens secretas em direção à água tornando-me mais resistente, evitei mil e uma armadilhas mais cruéis do que as outras, conduzi tanques em ruas íngremes da Babilônia e lutei contra monstros mais de vinte vezes meu tamanho. Apenas alguns quebra-cabeças baseados em mecânicas e caminhos imperceptíveis retardaram meu progresso em direção ao Vizir, mas o caminho ainda era longo antes de cumprir meu destino novamente.
